Para Quem é a Psicoterapia?
- Tiago Zamberlan
- 11 de set. de 2024
- 3 min de leitura

Para quem é a psicoterapia? Uma pergunta simples à primeira vista, mas que guarda em seu interior uma complexidade profunda. Muitos acreditam que a terapia é uma solução específica para um problema definido – como a ansiedade, a depressão, ou um trauma que precisa ser trabalhado. No entanto, a psicoterapia transcende esses objetivos utilitários. Ela é, antes de tudo, um espaço de confronto com o que há de mais verdadeiro e, paradoxalmente, desconhecido em nós mesmos.
A psicoterapia não é um caminho para todos, e isso é algo que devemos reconhecer desde o início. Ela é para aqueles que têm a coragem de olhar para dentro e se perguntar: O que há aqui que ainda não entendi? Ou, mais precisamente, o que há aqui que tenho medo de entender?
É um engano comum pensar que o processo terapêutico levará a uma descoberta final, uma conclusão definitiva sobre quem somos ou como devemos viver. A psicoterapia é, em muitos aspectos, uma jornada de autodesconhecimento. Muitas vezes, entramos nesse espaço acreditando que vamos nos "encontrar", mas o que descobrimos é que talvez tenhamos que abrir mão de tudo o que achávamos que sabíamos sobre nós mesmos.
É um espaço para questionar as certezas, para desmontar as narrativas que construímos ao longo da vida, muitas vezes para nos proteger de verdades dolorosas. O que significa, por exemplo, confrontar aquela voz interna que diz que você "não é suficiente" ou que precisa ser de uma determinada maneira para ser aceito ou amado? Quantas vezes nos deixamos aprisionar por histórias que herdamos de nossa família, de nossa cultura, de nossas experiências mais dolorosas?
A psicoterapia é para aqueles que convivem com o caos interior — que oscilam entre extremos emocionais, que sentem que suas emoções são tempestades incontroláveis, mas também para aqueles que estão presos em uma espécie de neutralidade emocional, uma anestesia da alma que pode parecer um estado de "paz", mas que na verdade esconde uma ausência de vitalidade e propósito.
É para quem sente que está "bem demais" — mas sente um vazio que não sabe como nomear. Uma inquietação que não se traduz em palavras fáceis. Quem vive nesse estado de aparente estabilidade pode estar escondendo de si mesmo o medo de sentir, de se abrir para o que está por baixo dessa superfície de tranquilidade.
É para quem está disposto a questionar o conhecido e mergulhar no desconhecido, sabendo que, ao fazer isso, podem emergir não com respostas, mas com novas e mais complexas perguntas. A terapia não promete o conforto das certezas. Pelo contrário, ela muitas vezes nos aproxima do abismo de nossas dúvidas mais profundas, e é nesse abismo que podemos encontrar a matéria-prima para a verdadeira transformação.
A terapia é também para aqueles que se encontram em repetição. Repetições de padrões, de relacionamentos, de dores. Quantas vezes somos pegos revivendo as mesmas dinâmicas em nossas vidas, como se estivéssemos presos em um ciclo interminável? Essas repetições não são acidentais; elas falam de algo que ainda não foi compreendido, de uma mensagem do inconsciente que ainda não foi decifrada.
Por isso, talvez o convite mais honesto que a psicoterapia faça seja este: "Você está disposto a desaprender?"Desaprender o que pensa que sabe sobre si mesmo, sobre o mundo, sobre os outros. Esse desaprender, ou "autodesconhecimento", pode ser a chave para uma vida mais autêntica, menos guiada por narrativas impostas e mais conectada com aquilo que emerge genuinamente de seu ser.
Ao final, a psicoterapia não é um lugar para se encontrar, mas para perder as noções rígidas de quem você pensa ser. É na desconstrução dessas ideias e na abertura para o novo que a verdadeira mudança acontece.
🗝️ Se esse chamado ressoa em você, talvez seja hora de se permitir essa jornada de autodesconhecimento. Vamos trilhar esse caminho juntos?
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